O Brasil passa pela maior estiagem em 91 anos, com consequências que remetem ao apagão de 2001.
O período chuvoso no Brasil terminou em Abril, que é quando a Aneel analisa a quantidade de água arrecadada e prevê qual bandeira tarifária será cobrada na conta de luz. Até agora, o índice pluviométrico no país está muito abaixo do esperado, e agora estamos no período de escassez que se estende até novembro, no qual não choverá o suficiente para aliviar a situação das usinas hidrelétricas. Devido à falta de água, fez-se necessário o acionamento das usinas termelétricas, que produzem energia mais cara e são altamente poluentes.
A matriz hidrelétrica representa 63,5% da produção de energia no Brasil, quando durante o apagão de 2001 representava 95%. Ainda que a contribuição da matriz hidrelétrica tenha diminuído, persiste um nível alto de dependência desta fonte. De acordo com o último relatório da ONU, a seca será a próxima pandemia mundial, para a qual não haverá vacina. A escassez será não somente de água para as bacias hidrográficas, mas mesmo para beber. Essa volatilidade climática faz com que a bandeira vermelha, que acarreta uma alta taxa de cobrança na conta de luz, siga constante na vida dos brasileiros. A Aneel já prevê um aumento de 5% na tarifa para 2022.
Um estudo recente da ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) revelou que em Novembro de 2021 haverá falta de energia, fazendo-se necessário a importação. De acordo com a previsão do crescimento do PIB brasileiro com a retomada da economia quando o fim da pandemia acontecer, o déficit de energia para consumo no Brasil alcançará 2.000 MW.
A busca por segurança energética é uma das pautas atuais no Brasil. O uso da energia elétrica é, portanto, parte essencial do desenvolvimento econômico. Para que o Brasil se recupere da crise fomentada pelo pandemia de Corona Vírus não há espaço para o racionamento ou falta de energia elétrica. A segurança energética, de matrizes seguras e mais baratas, proporciona vantagens competitivas para os negócios e economia e segurança para as residências. Não é aceitável que a solução para a crise hídrica seja a dependência das usinas termelétricas. É preciso a visão estratégica de um futuro no qual a matriz energética seja segura, estável e sustentável, e compreender que o futuro começa agora.
O meteorologista Giovanni Dolif, pesquisador no Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, opinou sobre as medidas a serem tomadas. "A longo prazo, precisamos repensar a nossa forma de gerar energia”, ele disse. “Estamos vendo que ela pode vir em quantidade insuficiente para prover energia. Então, precisamos investir em outras fontes. Por exemplo, fontes eólicas, utilizando o vento, ou fontes solares, utilizando o Sol. Essas fontes têm uma variação menor. A gente consegue planejar melhor essas fontes de energia”, completou.
Rodrigo Sauaia, o presidente da Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica), frisa a dependência que o Brasil tem da água. “O caminho é a gente diversificar", disse. "Quando olhamos a matriz elétrica brasileira, somos muito dependentes de poucos recursos. A água sozinha representa 63,5% de toda nossa capacidade e, infelizmente, temos que ativar as termelétricas caras e poluentes que pesam no bolso do consumidor. Precisamos diversificar. Somando com a água, para que possamos economizar água nos períodos em que ela é mais necessária para a nossa necessidade, fazendo uso do sol, vento e biomassa”, concluiu.
O mercado de energia solar no Brasil cresceu 1.181% desde 2016. De acordo com a Aneel, têm crescido, em média, 25% por trimestre em 2021. A queda do preço dos painéis solares, fruto da demanda, tem atraído e popularizado essa matriz energética, que antes era considerada exclusividade de poucos. O potencial de crescimento dessa matriz de energia é imenso, tal qual a potência do sol. Hoje sendo 2,5%, a Bloomberg New Energy Finance prevê que a matriz solar comporá 21,5% da geração de energia no Brasil até 2050. A porcentagem da matriz hidrelétrica deve cair para 30%.
O sol nasce todos os dias e continuará nascendo. A exploração desse recurso é a chave para um futuro sustentável e seguro, em que haverá ampla possibilidade de desenvolvimento econômico, sem a dependência da água inconstante ou dos combustíveis fósseis finitos. O futuro da energia é o presente, e o presente é a energia solar.
Comments